sábado, 22 de março de 2014

Especialistas debatem consequências da legalização do uso de maconha.



O coronel da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro, Jorge da Silva, membro da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), manifestou-se hoje (21) contra a proibição penal relativa ao uso de drogas. Silva foi um dos participantes do debate Legalizar É o Caminho?, promovido pelo Conselho Municipal Antidrogas (Comad) sobre a liberação ou não do uso da maconha.
Falando à Agência Brasil, o coronel, que é ex-chefe do Estado Maior da PM, esclareceu que “o modelo que temos, de combate policial, penal, carcerário, para resolver uma questão social, já se provou um fiasco. Basta ver o que ocorre em grandes cidades como São Paulo e, principalmente, Rio de Janeiro, nas quais temos pessoas morrendo aos borbotões”. Isso inclui, segundo Jorge da Silva, policiais, traficantes, supostos traficantes e pessoas das comunidades.
“As comunidades estão com medo. Há ataques de traficantes às bases policiais, traficantes matando policiais e estes matando traficantes. Em suma, no final, nós temos aqui um modelo que acaba resultando em brasileiros matando brasileiros”. Ele lembrou que em 1998 a  Organização das Nações Unidas (ONU) queria impedir o avanço das drogas, em dez anos, por meio da repressão policial. Em 2008, viu-se que o objetivo não foi alcançado, disse. “É uma matança tremenda”.
Silva insistiu que o modelo está ultrapassado. Para ele, é preciso pensar a questão das drogas em termos de prevenção, educação, saúde pública e restrições administrativas. “Acho que é preciso tirar o controle das mãos dos traficantes”. Salientou que os Estados Unidos, na década de 1930, quando declararam guerra ao álcool, o que conseguiram foi inventar o crime organizado no modelo atualmente em vigor. “Quando viram a besteira que fizeram, voltaram atrás com uma nova emenda constitucional e o álcool passou a ser controlado pelo governo. Hoje, é mais fácil tomar bebida alcoólica no Brasil do que nos Estados Unidos”.
Jorge  da Silva não gosta do termo legalização da maconha.  Ele prefere controle. Daí, admitiu  que o controle do uso dessa droga  pelo governo poderia ser feito como experiência, no Brasil.  “Uma coisa eu garanto: piorar não vai”. Voltou a insistir  que o modelo que vige hoje, no país, “é insano”.
Já o presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas (Abrad), psiquiatra Jorge Jaber, diz ser contrário à legalização da maconha, por razões médicas. Ele disse à Agência Brasil que já está comprovado que o uso da maconha, em especial por pessoas jovens, compromete de forma significativa os neurônios.
“Há uma morte dos neurônios cerebrais, que ocorre lentamente. Isso leva  a um transtorno cognitivo, isto é, a uma perda da capacidade de memória e de desempenho intelectual. Então, sob o ponto de vista neurológico, há a destruição do cérebro”, informou.
Jaber acrescentou que do ponto de vista pulmonar, o uso da maconha acarreta a instalação de bronquite e de câncer de traqueia e de brônquios. A droga provoca também alteração na produção de espermatozoides no homem  e disfunção sexual. Do lado  psiquiátrico, disse que o uso da maconha está “fortemente associado” a transtornos psicóticos. “Ou seja, doenças em que o paciente perde totalmente o contato com a realidade e pode desenvolver  alucinações  visuais e auditivas, delírios persecutórios, principalmente, o que leva, por exemplo, a situações de descontrole, colocando em risco a própria vida ou de terceiros. Então, sob o ponto de vista médico, a maconha causa inúmeros problemas”, apontou.
O presidente da Abrad, que integra também o Comad, informou que, no Brasil, está se confirmando o uso  crescente de maconha em idades cada vez mais jovens. Ele argumentou que não há nenhuma vantagem cientificamente comprovada de que o uso da maconha traga algum benefício, além de uma sensação que consideram agradável.
Destacou que  em populações das classes  média e média alta  das maiores capitais, que têm acesso a bens, a uma boa alimentação, a práticas esportivas, o prejuízo do consumo da maconha é menor do que em populações de baixa renda. “Aí é uma catástrofe. É uma garotada que não tem escola, que não se alimenta bem. É um pessoal mais complicado e que, certamente, ficará bastante comprometido”.
Outro argumento contra a legalização da maconha, levantado por Jaber, está ligado ao controle da droga. “Se a proibição da venda de  tabaco e de álcool para crianças e adolescentes fosse respeitada,  nós poderíamos acredita  que também a maconha, quando fosse liberada, poderia ser controlada e os jovens não iam usar. A verdade, porém, é que não conseguimos controlar o uso de álcool”. Esse é um ponto importante da questão, sob o ponto de vista de saúde pública, acrescentou, “porque nós não temos recursos suficientes para tratar as pessoas que sofrem do uso de drogas atualmente. Imagina quando aumentar o consumo”.

fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/especialistas-debatem-consequencias-da-legalizacao-ou-nao-do-uso-de-maconha

quinta-feira, 20 de março de 2014

ZONA DE CONFORTO



A Vaca no Penhasco
"Mestre e discípulo andavam pela estrada. O caminho era inóspito, agressivo. O ambiente não era favorável à vida. Muitas pedras e montanhas escarpadas de muito pouca vegetação. Avistaram, ao longe, uma casinha de aspecto pobre e humilde, e para lá se dirigiram.
Foram recebidos, hospitaleiramente, pelo dono da casa e sua numerosa família. Foram abrigados, e os residentes, com eles, compartilharam sua escassa comida e seu espaço para dormir. Interrogado pelo mestre, o dono da casa disse que a alimentação provinha de uma única fonte: uma única vaca da qual tiravam leite e seus subprodutos. O excedente era usado para efetuar trocas no povoado mais próximo.
Mestre e discípulo ficaram ali mais alguns dias, e depois partiram. Algumas horas depois da partida, o mestre disse ao discípulo:
- Volte lá, às escondidas, e jogue a vaca no penhasco.
Estupefato, o discípulo argumentou:
- Mestre, como podes me pedir isto? Então não percebes a pobreza de tão numerosa família, e que seu único sustento é a vaca? E, mesmo assim, pedes-me para jogá-la no penhasco?
- Sim - disse o mestre. Jogue a vaca no penhasco.
Desorientado, o discípulo decidiu atender o mestre, no entanto, não conseguia fazê-lo, sem sentir uma enorme culpa. Mesmo assim, o fez pelo mestre.
Alguns anos depois, passavam novamente pelas proximidades, o mestre e o discípulo. Sem nada dizer ao mestre, o discípulo decidiu que faria a expiação, e pediria perdão por ter jogado a vaca do penhasco. Assim, dirigiu-se até lá. Mas, quando chegou, não mais encontrou a pobre casinha em seu lugar. Havia uma construção nova e confortável. As pessoas, que avistou, eram limpas e bem vestidas, o ambiente era de trabalho, e o progresso era evidente. Foi, então, até uma das pessoas e perguntou:
- Há uns dois ou três anos, aqui havia uma pequena e pobre casinha. Saberia me dizer para onde foram aquelas pessoas?
- Somos nós - respondeu o homem.
- Não, refiro-me àquelas pessoas pobres que aqui viviam.
- Somos nós - respondeu ele, novamente.
- Mas, o que aconteceu? - disse, olhando o progresso a sua volta.
- Bem - disse o homem. Aconteceu, numa noite, um terrível acidente, em que nossa vaca, nossa única vaca, caiu do penhasco, e ficamos sem nossa fonte de sustento. Não tivemos outra alternativa, então, a não ser buscar trabalho. Descobrimos, então, nossas próprias capacidades, e as potencializamos. Como resultado, temos hoje uma bonita e confortável casa".
Um mestre pode saber além da percepção do que está a nossa frente. Por isso, já sabia o que se desencadearia ao mandar jogar a vaca do penhasco. Já o discípulo, nada pode ver ainda, a não ser o que está diretamente a sua frente. Por isto, somente viu o infortúnio daquelas pessoas. O infortúnio é imediato. O infortúnio é transitório.